CORPO QUE OS DIAS
Poesia Jovem de Da Nirham Eros
heterônimo de
ANTONIO MIRANDA
( Rio de Janeiro, 1964 – 1966 )
Pois é, quando eu pensei que já havia copiado e publicado todos os meus poemas da infância e da juventude nos últimos anos,
deparei com mais dois cadernos (manuscritos) numa estante da
chácara Irecê, em Cocalzinho (Goiás). Mais que um deleite, um susto! Incrível.
Decidi transformá-los em um volume único, perpetuando aqueles textos escritos no Rio de Janeiro, revelando um jovem
apaixonado, em versos confessionais e despistadores... Paralelamente, em outros cadernos, eu já experimentava poemas visuais (verbivocovisuais), mas aqui estão versos mais tradicionais, mas não convencionais. Criativos, vivenciais.
Não obstante, a maioria dos poemas eu risquei, convencido de que não deveria divulgá-los. Sensuais e sensoriais demais... Agora, na velhice, vejo-os com mais leniência, surpreendendo-me por sua declatória indominável, juvenil. Usava o heterônimo de Da Nirham Eros, criado pelo meu amigo (artista) Roland Grau, derivando do sobrenome Miranda e ressaltando a palavra Eros, de amor...
Continuo agora com esse terceiro poema:
Maria não gosta da palavra estrume
Luís busca os lugares comuns...
Adalgisa, coitada, cansada e fatigada
ainda encontra pecados ortográficos.
Para Mário sou cerebral, frio, geométrico, hermétrico.
Ele não entende nada.
Maria entende tudo e espera mais.
Vou fechar para balanço.
Perdi todos os amigos
Perdi tempo. Perdi tudo.
Mas onde perdi me salvei.
Fecho a porta e continuo.
Rio de Janeiro, junho 1966
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